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terça-feira, 12 de setembro de 2017

A biodiversidade, a cura da AIDS e as tendências da agricultura biológica

Enquanto o Brasil de Temer dá pouca importância à diversidade biológica, potências econômicas entendem muito bem o valor dela no Brasil
Já comentei na coluna os riscos que corre a agropecuária brasileira com as restrições de investimentos e corte de verbas que o atual governo impõe às instituições de pesquisas, aí incluída a inação do hoje estendido Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovação e Comunicações, chefiado por um não entendido e estendido nessas matérias, Gilberto Kassab.
Já comentei na coluna os riscos que corre a agropecuária brasileira com as restrições de investimentos e corte de verbas que o atual governo impõe às instituições de pesquisas, aí incluída a inação do hoje estendido Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovação e Comunicações, chefiado por um não entendido e estendido nessas matérias, Gilberto Kassab.
Some-se a isso o abrandamento na legislação dos agrotóxicos e nas punições para quem agride a preservação ambiental.
Já cansei de escrever aqui sobre o valor de nossos biomas e a biodiversidade que contêm. Pouco adianta. Sobre a Amazônia, por exemplo, ouço: “equivale a ter dinheiro no cofre, enterrá-lo, mas somente poder abri-lo daqui a cinco gerações (...) hoje não serve para nada e nem saberemos se viria a servir”.
Nada a estranhar. A seleção que nos representa no campeonato de estágio civilizatório está escalada: Moro, Joesley, Temer, Padilha e Wesley; Jucá, Gilmar e Moreira; Marinho (o mais gordo), Maia e Janot.
De que serviria, então, ler, informar-se, discutir, enfim, entender melhor e sair às ruas clamando por ciência e tecnologia?
Curioso essa forma de pensar ser frequente em minhas andanças rurais, justamente quem melhor deveria perceber a natureza e os danos cada vez maiores que vêm na contramão de nossas agressões.
Desenhar biodiversidade? Posso, mas apenas uma vez. Cansa. Poder-se-ia preencher cadernos a não caber na “bagagem” de Geddel.
A proteína Pulchellina e seu uso, por exemplo, eu passei a conhecer depois de ouvir no Jornal da USP (05/09), entrevista com o professor Francisco Eduardo Guimarães, do Instituto de Física de São Carlos (IFSc), explicando os avanços obtidos no uso dessa proteína no combate a células infectadas pelo HIV.
Ela é encontrada na planta trepadeira Abrus pulchellus, nativa do Brasil. Apesar de tóxica, não é danosa à saúde se utilizada em pouca quantidade. Conectada a um anticorpo tem a capacidade de identificar células infectadas pelo vírus da Aids, destruindo apenas as células doentes, sem afetar as saudáveis. Será a cura da doença.
Pois bem, isso é biodiversidade.
Os EUA, países europeus e logo os chineses, entendem muito bem o valor dela no Brasil, especialmente na Amazônia. O trabalho do IFSc é acompanhado por universidades norte-americanas e o setor farmacêutico gringo dá pulos de alegria. Será superávit em seu caixa.
Isso foi saúde. Vamos à agricultura.
A revista norte-americana Food & Beverage encomendou à empresa indiana de pesquisas de mercado MarketsAndMarkets™ um importante e metódico estudo sobre as principais tendências da indústria na agricultura biológica, com previsão até 2022.
A partir de um release de 35 páginas, resumo o tema para os poucos leitores da coluna quando ela não trata de política:
“A agricultura biológica compreende um grupo de produtos derivados de fontes naturais como microrganismos, extratos de plantas, ou outras matérias biológicas, que podem ser usadas para substituir agroquímicos agrícolas. Eles fornecem às plantas proteção contra pragas e doenças, e outras ameaças como ervas daninhas. Ajudam no crescimento e na sanidade das plantas”.
Pena que no Brasil se continue dando pouca importância a esses manejos e tratamentos. Continuo traduzindo:
“Produtos agrícolas biológicos são fabricados a partir de micróbios, bactérias, fungos e outros microrganismos, como vírus e protozoários. Quando adicionados ao solo e às plantas, melhoram a absorção de nutrientes como nitrogênio e fosfato, aumentando a produtividade e a proteção das lavouras”.
O estudo abrange as principais categorias de produtos com tais propriedades e comercialmente disponíveis no Brasil: bioinseticidas, bioestimulantes, biofertilizantes, inoculantes agrícolas, microrganismos, tratamentos biológicos de sementes.
Para cada um desses segmentos é dimensionado o tamanho do mercado nos Estados Unidos, Europa, Ásia-Pacífico e América Latina, assim como as tendências de crescimento nas aplicações, os catalizadores e obstáculos no mercado, cenários de competitividade, estratégias corporativas, principais players.
Os produtos para a agricultura biológica estão projetados atingir 11,35 bilhões de dólares, em 2022, crescimento de cerca de 13% ao ano, facilitado pela demanda crescente por alimentos orgânicos, necessidade de melhor gerenciar os resíduos, maior crescimento no uso de produtos e tratamentos mais baratos, e a disposição de organizações governamentais investirem mais nessas tecnologias.
O estudo completo tem cerca de 200 páginas e pode ser obtido no site da empresa indiana: www.marketsandmarkets.com
É carinho, mas nada que um crowdfunding rural não possa contornar.
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